O X Encontro CITCEM irá focar-se no estudo diacrónico das orlas costeiras e ribeirinhas, a partir de preocupações ambientais e da valorização das relações humanas com os oceanos, os mares, os rios e os seus ecossistemas. Pretende-se que as Culturas D’Água sejam observadas, na sua diversidade, a partir de uma análise multi-escalar, em diferentes cronologias e espaços, desejavelmente numa perspetiva inter e transdisciplinar.
Seguindo uma aposta num forte envolvimento societal e a preocupação com o estabelecimento de diálogos entre a academia e comunidades que geram e dão vida a essas Culturas D’Água, o X Encontro procurará identificar e fomentar processos de co-criação de conhecimento. O objetivo é estabelecer pontes entre a universidade e as comunidades, com vista à salvaguarda de um património que é, na sua diversidade, mundial.
Alteridade em Nós
As transferências interculturais locais, nacionais e internacionais e o seu reflexo na sociedade, língua, cultura e património são temas relevantes para a compreensão dos processos de identificação das Alteridades em Nós, que se desenvolvem em espaços permeáveis à coexistência de todo o tipo de diferenças. Muitos dos processos de alteridade acontecem em zonas costeiras e ribeirinhas, áreas de contato entre diversas culturas. Esta linha de reflexão analisa manifestações de diferença/indiferença e a sua interação ao longo do espaço e do tempo. Convida, por isso, ao questionamento acerca da construção social, a partir das ideias e conceitos de tolerância e/ou intolerância, da inclusão e/ou exclusão, da assimilação e/ou discriminação. Todas as minorias estão incluídas nestas linhas de reflexão, sejam pessoas escravizadas, grupos religiosos, estrangeiros, aqueles que procuram asilo e/ou refúgio e indivíduos encarados pelas comunidades como forasteiros e/ou marginais.
Fluxos Globais
Os oceanos e as explorações transoceânicas são ponto fulcral para o estudo da globalização, na longa duração. Focando-se em aspetos socioeconómicos, culturais e ecológicos, assim como nas dinâmicas de rutura e continuidade daí decorrentes, pretende-se refletir sobre as migrações de modelos políticos, religiosos e económicos (por exemplo, os decorrentes de processos de colonização) e aos seus reflexos em sociedades, culturas e paisagens marítimas e ribeirinhas. Este eixo temático apela a uma reflexão focada na forma como a circulação e os processos de transferências interoceânicas, sejam elas populacionais, tecnológicas ou de conhecimento, se refletem em Culturas D’Água de diversos pontos do globo. Aponta para o estudo de dinâmicas marítimas globais e para os mecanismos de globalização, para os quais contribuiu a centralidade dos oceanos, desde a Primeira Idade Global (1500-1800).
Territórios Partilhados
Este eixo temático prende-se com temas afins com a mobilidade populacional e o povoamento regional, as migrações e a história da população, abordando dinâmicas de comunidades permeáveis, na sua relação com a memória e o património local, material e imaterial. Convida-se, a partir desta perspetiva, à reflexão, quer multidimensional, quer multidisciplinar, acerca do(s) conceito(s) de comunidade, de coexistência, fronteiras fluidas, diluídas, ou sua ausência. A evolução da ocupação partilhada dos territórios, aqui entendidos a partir da conexão da população com o mar e as zonas ribeirinhas, é outro dos temas que requer destaque e reflexão.
Transformações Ambientais
A relação entre mudanças de sistemas de valores e comportamentos culturais e as alterações ambientais e climáticas, com particular incidência nas suas vertentes históricas e sociais, constituem o núcleo central de reflexão deste eixo de análise. O conceito de «economia sustentável», traduzido na emergência de novos valores, usos e relações das sociedades com o património natural, decorrentes do esgotamento de recursos e/ou de uma diferente consciência ambiental, está na ordem do dia. Este é o mote para refletir acerca das transformações climáticas, ambientais e ecológicas do passado e das soluções encontradas pelas comunidades contemporâneas como resposta a essas transformações. Apela-se especialmente a contributos que reflitam sobre as transformações ambientais e a sua relação com os meios aquáticos. Estas interações podem ser em escalas macro, interferindo com as dinâmicas oceânicas, ou em escalas micro, nas articulações com as linhas de costa e as frentes ribeirinhas.
Transições em Mudança
Na diacronia, são assinaláveis momentos-chave responsáveis por alterações societais, que criam novos paradigmas geradores de novas articulações entre os grupos humanos e o seu entorno. Convida-se a refletir acerca da identificação desses momentos de mudança e dos seus impactos em diferentes escalas e através de diversas abordagens. No caso das zonas marítimas e ribeirinhas, é um processo constante que altera a forma como o(s) governo(s) e as políticas públicas se relacionam com as populações. Alguns dos exemplos dessas mudanças são as transformações de ordem demográfica, as alterações climáticas provocadas (ou impulsionadas) pelo homem, as viragens económicas, as mutações políticas e governativas e as alterações causadas pelas culturas digitais em evolução, sem esquecer o acesso à (des)informação e a difusão de conhecimento.