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Organização:
Grupo de Investigação Associado
Tipo de Evento:
Apresentação de Livro: 1º Congresso Internacional Amadeo de Souza Cardoso
Neste livro reúnem-se reflexões que resultam de uma nova visão historiográfica sobre a obra de Amadeo que se tem vindo a desenvolver no século XX I e que foram apresentadas e debatidas durante o Congresso. Um século passado sobre a exposição organizada por Amadeo, no Porto, e apesar dos diferentes estudos, das revisões do corpus da obra e dos cotejos, quer com obras de artistas contemporâneos quer com os movimentos das primeiras vanguardas do século XX , sabemos que ainda há muito da obra deste artista que nos obriga a procurar novos quadros de entendimento, explicativos dos vários sentidos existentes no trabalho de Amadeo. De todos esses estudos surgiram questões que se encadearam levando, por um lado, a clarificar a sua importância nas circunstâncias em que foram realizados, através de novos modelos de análise da história e da historiografia de Amadeo e, por outro lado, a pensar-se o momento atual (meios técnicos e permeabilidade a redes de relacionamento e interações) como componente das experiências percetivas da obra que agora se multiplicam.
Este Congresso contribuiu para a perceção da abrangência do(s) olhar(es) e daquilo que pensamos ser a essência artística de Amadeo, assim como nos aproximou da real dimensão do seu legado para o século XX , não só à escala nacional como internacional; proporcionou ainda deslocamentos de pontos de vista e sugeriu temas de investigação.
Como indivíduo que não se deixou encerrar em fronteiras, Amadeo procurou, desejou e ampliou a diversidade de informação que atravessava, então, as “capitais” das vanguardas. Estas passaram a fazer parte da sua geografia artística, tal como as serras do Vale do Douro e lugares mais familiares como Amarante e Manhufe… mas, sobretudo, enquanto lugares que ofereciam meios e estímulos para a pesquisa de si mesmo como artista. Viajante dentro de si, as questões e interesses plásticos acompanhavam-no e envolviam-se com as circunstâncias e os espaços específicos. Matéria e forma, tema e matéria plástica, espaços sensíveis em transposições sempre renovadas (paleta, pincelada, figuração, mancha, composições-rememorações, montagens-desintegrações…) que capturava e abandonava, desprendidamente, ao ritmo das conversas com as imagens (suas e de outros), das sensações e dos sentimentos.
Problematizando citações plásticas, Amadeo resguardava-se, contudo, em distâncias que o não distraíssem do encontro com os signos, criados e muitas vezes recriados num tempo individual e exclusivo que dava corpo a formas captadas num primeiro contexto e que logo identificava como potencialmente outra coisa…
Inventou procedimentos plásticos, em experiências constantes que se sucederam, em aparente serenidade: ritmos diversos de “inspiração”, suspensões… A linha ou a mancha, a pergunta ou o ensaio de natureza plástica.
A visualização da reconstituição da exposição de Amadeo de 1916, Amadeo de Souza-Cardoso: 2016-1916. Porto-Lisboa, no Museu Nacional de Soares dos Reis (onde decorreu o segundo dia do Congresso, no âmbito da colaboração entre a Faculdade de Letras e o MNSR), culminando os trabalhos do Congresso, permitiu a discussão e a troca das ideias apresentadas pelos conferencistas. Olhámos de novo para Amadeo: ganhou maior consistência a necessidade de continuar a perseguir a compreensão da variedade de experiências plásticas e ideias artísticas que o artista foi construindo – essa “alegria tão física” concretizada na extensa obra, na capacidade de ver em composição e cor insubordinadas, como insubordinada era a sua voz única, forte mas simultaneamente doce, afirmativa e ciente da própria originalidade. Amadeo comentou, avaliou e fez o seu caminho rumo a si mesmo, com imensa curiosidade e grande apetite: é por isso que as experiências que ensaiou e os resultados obtidos tanto de natureza técnica e estética como conceptual estão estreitamente ligados à concretização e à expressão das suas identidades artísticas. Essa voracidade fê-lo sofregamente distribuir-se em ações, experiências, projetos, realizações… ser muitos.